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miragem - arte cinemática na paisagem 2021

A propósito de algum esclarecimento sobre a urgência em filmar o seu filme Pond and Waterfall, Barbara Hammer afirmava que o seu interesse em filmar a água de uma forma tão bela se prendia com a ideia de que talvez, talvez, se nos fosse mostrada a beleza da água, a quiséssemos cuidar melhor. E é precisamente do chamamento das águas que parte o programa de 2021 da Miragem.
O mar como elemento mitológico do encantamento e do feitiço, tanto quanto mar da força do trabalho da pesca e da extracção; o mar da violência colonial, tanto quanto o mar habitado por tantas outras espécies mais-do-que-humanas. É superfície tanto quanto é profundidade. Da beleza da flutuação das ondas, dos brilhos e dos seus habitantes de cores perfeitas, ao chamamento para que pensemos a sua história. Este programa procura encarar o vasto leque de significados que o meio aquático tem tido ao longo das histórias cruzadas do cinema e da humanidade, numa ilha onde a vida foi sempre determinada pelo e com o mar.





Programa





26/08/21


14h - 18h | Mata dos Dragoeiros, Museu do Vinho
Workshop - How to Print the Landscape? - part 1 com Mónica Baptista


21h30 | Baía do Pocinho
- Sound Of A Million Insects, Light Of A Thousand Stars, de Tomonari Nishikawa
- Turbulence, de Rose Lowder
- All That Perishes At The Edge Of Land, de Hira Nabi
- Una Luna de Hierro, de Francisco Rodriguez




27/08/2021


14h - 18h | Mata dos Dragoeiros, Museu do Vinho
Workshop - How to Print the Landscpe? - part 2 com Mónica Baptista

21h | Baía das Canas
conversa com Margarida Mendes sobre mineração do mar profundo e activismo

22h | Baía das Canas
programa comissariado por Margarida Mendes 
- What Is Deep Sea Minning? Episode 1: Tools For Ocean Literacy, de Inhabitants com Margarida Mendes
- What Is Deep Sea Minning? Episode 2: Deep Frontiers, de Inhabitants com Margarida Mendes
- What Is Deep Sea Minning? Episode 3: The Azores Case, de
Inhabitants com Margarida Mendes
- Oceanarium, de Armin Linke em colaboração com Giulia Bruno e Giuseppe Ielasi




28/08/21


19h | Gruta das Torres
- Look Then Below*, de Ben Rivers
realizador presente para introduzir o trabalho + visita guiada à Gruta

20h | Gruta das Torres
- repetição de projecção* + visia guiada

 10pm | Café concerto
- festa no Café Concerto

*sessão em parceria com a Secretaria Regional para o Ambiente e as Alterações Climáticas através do Centro de Visitantes da Gruta das Torres



29/08/21


21h30 | Baía das Canas
- projecção do Filme Colectivo resultado da oficina criativa com Mónica Baptista;
- Of This Beguiling Membrane, de Charlotte Pryce
- Moon’s Pool, de Gunvor Nelson
- El Mar Peino La Orilla + Cruce Postal + Trópico Desvaído, de Valentina Alvarado Matos
- Água Forte, de Mónica Baptista (realizadora presente para apresentar a sessão)


30/08/21


21h30 | Baía do Pocinho
Two Years At Sea, de Ben Rivers
- realizador presente para apresentar a sessão




Sound Of A Million Insects, Light Of A Thousand StarsTomonari Nishikawa, 2014

O filme negativo a cor de 35mm foi enterrado por baixo de folhas caídas perto da estação de energia nuclear de Fukushima Daiichi. Visualizando a radioatividade invisível, o resultado é um frenesi de luzes e arranhões. O filme mais abstrato de Nishikawa pode muito bem ser ainda o seu filme mais político.





TurbulenceRose Lowder, 2015

Turbulência foi filmado na cidade medieval de Alet les Bains. No meio de uma cidade pacífica, com um clima quente e relaxante, conhecido pelos seus banhos termais, encontra-se no rio Aude uma pequena cascata, cujas imagens, tal como o título do filme – turbulência –, se referem ao estado actual do mundo.





All That Perishes At The Edge Of LandHira Nabi, 2019

Neste trabalho de docuficção, ‘o Mestre Oceânico’ um navio de contentores é antropomorfizado e estabelece um diálogo com vários trabalhadores na costa de Gadani. O barco ancorou em Gadani e os trabalhadores que o desmontam e que vêm de todos os lados do Paquistão descobrem que têm mais em comum do que imaginavam, quando estabelecem um diálogo. A conversação move-se entre sonhos e desejos, lugares que podem chamar-se “casa”, e sobre a violência estrutural envolvida no acto de desmembramento de um barco em Gadani.





Una Luna de HierroFrancisco Rodriguez, 2017

Una Luna De Hierro abre com a poesia de Xu Lizhi, um trabalhador da fábrica electrónica Foxconn em Shenzhen, China, que cometeu suicídio em 2014 aos 24 anos. Mas corta através do globo até às águas da Patagónia. O mar parece plácido, mas é de facto um mar de desespero, condições de trabalho horrendas e corpos ao mar em sepulturas líquidas. Movendo-se entre o habitante local e o global, a costa e o profundo, Francisco Rodriguez habita a vigília de trabalhadores chineses mortos que tentaram abandonar o seu barco de pesca da lula da costa chilena, para quem uma viagem marítima longa se tornou uma viagem sem regresso.









Look Then BelowBen Rivers, 2019
- realizador presente para introduzir a sessão

O filme evoca seres futuristas a partir de uma paisagem nas profundezas da terra. “Look Then Below” foi filmado nas passagens vastas e escuras de Wookey Hole Caves em Somerset. O submundo das câmaras da gruta, esculpido ao longo de um tempo profundo e que outrora guardou restos de civilizações perdidas, prediz agora um futuro mundo subterrâneo, ocupado por uma espécie que evoluiu do nosso mundo de crises ambientais. É a terceira parte de uma trilogia de filmes especulativos e o texto do filme foi escrito por Mark von Schlegell.




Two Years At SeaBen Rivers, 2011
- realizador presente para introduzir a sessão

Um homem chamado Jake vive no meio da floresta. Sai para longos passeios independentemente do tempo que faça lá fora e tira sestas nos campos nebulosos e nas florestas. Jake constrói uma jangada para passar o tempo sentado num lago. Conduz um velho jeep para transportar madeira. Vemo-lo em todas as estações, sobrevivendo frugalmente, passando o tempo com projectos estranhos, vivendo o sonho radical que tinha quando era um homem mais jovem, um sonho que passou dois anos a trabalhar no mar para o poder realizar.





Of This Beguilling MembraneCharlotte Pryce, 2021

The Secret Commonwealth", uma coleção folclore de contos sobrenaturais fundamentalmente sobre fadas das terras altas escocesas recolhidos por Robert Kirk entre 1691 e 1692, inspira o filme de Pryce, que recorre também ao retrato da Ofélia, afogada em circunstâncias misteriosas, para revelar a sedução da água. O que inicialmente aparenta ser um filme que se aproxima da natureza a partir da sua superfície, em deliciosos retratos de Gerris Lacustris - Alfaiate - a pairar sobre a água, dá rapidamente lugar a um encontro com as profundidades daquele elemento líquido turvo e encantado, onde a ondulação entre o oculto e o visível magicamente enforma a imagem.




Moon’s PoolGunvor Nelson, 1973

Moon’s Pool conhece um lírico uso da película para retratar a procura de identidade e resolução do ser. Filmado dentro da água, os corpos vivos mesclam-se com paisagens naturais que criam modificações de humor potentes e imagens a emergir do inconsciente.





El Mar Peino La Orilla + Cruce Postal + Trópico DesvaídoValentina Alvarado Matos, 2019, 2015, 2016

Nestes três curtos filmes, a realizadora ensaia sobre a partida e a chegada. No primeiro, desenha uma pincelada para unir o mar e o céu, apagar o horizonte ou levantar um novo amanhecer. Depois, imagens filmadas entre a Venezuela e Espanha correspondem a um breve ensaio destas viagens de ida e volta onde a realizadora procura uma tensão entre ser um nativo e ser um estrangeiro. Uma série de reflexões sobre o território, topografias da memória que são esculpidas (em gesso, em postais, em desenhos): aquelas ligadas ao espaço familiar, à saudade e à reconstrução do mundo com os seus próprios mapas afectivos.




Água Forte Mónica Baptista, 2018  
- com a presença da realizadora

Água Forte é um filme feito numa viagem à Amazónia que procura preservar uma série de encontros. No princípio, escutamos o mito da Criação do Corripaco, um povo indígena da Amazónia (Brasil, Colômbia e Peru), onde o primeiro Deus, que vive num mundo vertical e silencioso, vê excrementos emergir das águas profundas. Água Forte segue o curso do rio, intersectando distintas temporalidades: a mitológica e a ensaística, dos diários de viagem, compondo assim uma reflexão horizontal, como uma paisagem, e finalmente colapsando num objecto nascido do inconsciente.






Sessão comissariada por Margarida Mendes

Analisando o oceano como um espaço social onde se desenvolvem tecnologias de produção de conhecimento científico, bem como de exploração de recursos, esta sessão questiona como nos relacionamos com o meio aquático através de várias perspectivas e ferramentas.
Oceanarium de Armin Linke, desenvolvido em colaboração com Giulia Bruno e Giuseppe Ielasi, foi filmado inteiramente no backstage do Oceanário de Lisboa. Revelando os rituais quotidianos que sustêm esta enorme infraestrutura onde o espaço oceânico e os seus diferentes ecossistemas são reconstruídos, o filme é composto por planos cuidadosamente dissecados onde acedemos às prácticas de manutenção ocultas por detrás do vidro do aquário. Na sua obra, Linke reporta os espaços e sistemas de gestão e negociação da era antropoceno, documentando a performance da burocracia e a complexidade da nossa relação com a natureza, que é aqui teatralizada. Nesta sessão serão também apresentados vídeos do colectivo inhabitants, que desde 2018 vem a produzir no seu canal de reportagem online, em aliança com a investigação de Margarida Mendes, a série “What is Deep Sea Mining?” dedicada ao tema da mineração em mar profundo, que tem sido debatida ao largo do arquipélogo dos Açores. Nos primeiros três episódios apresentados nesta mostra, que incluem entrevistas com biólogos sobre a ecologia do mar profundo, poderemos submergir numa leitura interescalar dos diferentes espaços da coluna de água, reflectindo sobre como as ferramentas oceanográficas transformam a nossa percepção do espaço marinho ao longo dos anos.

- Margarida Mendes



Margarida Mendes é curadora e investigadora. A sua pesquisa - com enfoque no cruzamento das humanidades ambientais, filme experimental e artes sonoras - explora as transformações dinâmicas do ambiente e o seu impacto nas estruturas sociais e no campo da produção cultural.  Integrou na equipa curatorial da 11th Gwangju Biennale "The 8th Climate (What Does Art Do?)", 4th Istanbul Design Biennial "A School of Schools", e 11th Liverpool Biennale "The Stomach and the Port".Em 2019, lançou a série de exposiçõesPlant Revolution! (CIAJG, Museo La Tertulia), que questiona o encontro interespécies explorando diferentes narrativas de mediação tecnológica, e em2016, curou a exposição Matter Fictions, no Museu Berardo, publicando um livro na Sternberg Press. É consultora de ONGs ambientais que trabalham sobre a mineração no mar profundo e dirigiu também diversas plataformas educacionais, como escuelita, uma escola informal do Centro de Arte Dos de Mayo - CA2M, Madrid (2017); O espaço de projectos The Barber Shop em Lisboa dedicado à pesquisa transdisciplinar (2009-16); e a plataforma de pesquisa curatorial sobre ecologia The World In Which We Occur/Matter in Flux (2014-18). Margarida Mendes é doutoranda no Centre for Research Architecture, Visual Cultures Department, Goldsmiths University of London e colabora frequentemente com o canal online de vídeo reportagem Inhabitants-tv.org

Margarida Mendes é membro fundadora do movimento Oceano Livre.
Para mais informação sobre a mineração no mar profundo visite: www.oceanolivre.org


What Is Deep Sea Minning? Episode 1: Tools For Ocean Literacy, de Inhabitants com Margarida Mendes;

What Is Deep Sea Minning? Episode 2: Deep Frontiers, de Inhabitants com Margarida Mendes;

What Is Deep Sea Minning? Episode 3: The Aazores Case, de
Inhabitants com Margarida Mendes;

Oceanarium, de Armin Linke em colaboração com Giulia Bruno e Giuseppe Ielasi




*Oceanarium foi comissionado pelo MAAT e fundação EDP em associação com o Oceanário de Lisboa na ocasião da exposição Aquaria, comissariada por Angela Rui e é aqui mostrado numa instalação temporária inserida na paisagem do Pico de uma só noite.





Oficina Criativa #1


Como Imprimir a Paisagem? Oficina Criativa de Cinema Animista com Mónica Baptista

Durante duas tardes, os participantes desta oficina criativa irão recolher material vegetal e mineral (flores, folhas, terra, pedras, água do mar, etc.), elementos que serão depois usados para impressão directa em película de cinema de 16mm. Irão ainda ser exploradas outras técnicas de animação, como riscar e desenhar directamente sobre o filme, bem como tintagens com pigmentos naturais.  A oficina criativa fará uso de químicas ecológicas e biodegradáveis amistosas com o meio natural envolvente. Todos os materiais necessários serão fornecidos por nós e não é necessária formação ou experiências anteriores na área do cinema O evento decorrerá na Mata dos Dragoeiros, ilha do Pico, nas tardes de 26 e 27 de Agosto, inserida no programa geral da Miragem - Mostra Internacional de Cinema na Paisagem. Como resultado final surgirá um filme colectivo a ser projectado no dia 29 de Agosto, na sessão nocturna da Miragem.Dias 26 e 27 de Agosto, entre as 14h e as 18h, na Mata dos Dragoeiros, Museu do Vinho, ilha do Pico, Açores.

- Idade a partir dos 16 anos e destinado aos habitantes da região.
- Limite máximo de 10 pessoas inscritas no workshop.
- Para inscrição, por favor enviar email para miragemfilm@gmail.com com um breve parágrafo com a motivação pessoal para a oficina criativa.
- A oficina é gratuita




Mónica Baptista (Porto - 1984)

Formada em Artes Plásticas-Pintura pela Faculdade de Belas-Artes do Porto, desenvolve trabalho na área da fotografia, cinema documental e experimental, com especial foco nos meios analógicos, super8, 16mm e 35mm. Pitões das Júnias (Trás-os-Montes) tem sido um lugar gestacional para o desenvolvimento do seu trabalho, assim como contextos cíclicos de viagem e a frequência de residências artísticas das quais se destacam, ZDB - Lisboa, Location One - Nova Iorque, Crater Lab - Barcelona, Atelier 105, Light Cone - Paris e LEC - Laboratório Experimental de Cine na Cidade do México.O seu trabalho tem sido exibido em Portugal e internacionalmente, em galerias e festivais de cinema. Da sua filmografia fazem parte Água Forte (2018), Cem Raios t’Abram (co-realização, 2015), Teares (2014), Diário (2010) prémio BES Revelação - exibido no Museu de Serralves e o documentário Territórios (2009) estreado na Semana da Crítica em Cannes e vencedor do prémio de Melhor Realização no festival Visions du Réel (Suíça).É co-fundadora da Cooperativa Cultural Laia, projecto orientado para a produção e investigação na área do cinema experimental.